Cada ser humano nasce potencialmente capaz de falar dois idiomas: a linguagem racional e a emocional. Como esses dois idiomas são inatos, frequentemente misturamos as palavras de um e de outro em uma mesma oração. O resultado disso pode ser o desentendimento, pelos outros ou por nós mesmos. A única maneira de evitarmos essa confusão que gera desentendimentos é desenvolvermos nossa habilidade em identificar os dois idiomas e distingui-los.
Caso você não saiba ainda do que eu estou falando, não se aborreça, vou dar mais detalhes; se você já sabe o que estou dizendo, parabéns, você pode dominar com facilidade sua comunicação.
Frequentemente misturamos esses dois idiomas mesmo em nossos pensamentos e isso nos leva a conclusões muito erradas. Se acrescentarmos a possibilidade de termos pontos cegos em nosso campo de visão, isso potencializa a possibilidade de (grandes) enganos, como ocorre na adolescência quando, junto com as grandes erupções emocionais, temos também as coisas concretas, objetivas, racionais, do mundo adulto.
Vou exemplificar através de alguns pensamentos, atitudes e expressões bastante frequentes:
- O primeiro casamento é o único: ou o segundo (ou terceiro) casamento é melhor. É impossível fazer qualquer afirmação a esse respeito. A qualidade do relacionamento está ligada à competência que ambos têm de se relacionar com clareza no âmbito racional e emocional e não à ordem de ocorrência.
- Os homens são… As mulheres são…: Os homens são iguais em alguns aspectos assim como as mulheres são iguais em alguns aspectos. Os homens são diferentes em outros aspectos assim como as mulheres são diferentes em outros aspectos. Justificar as opções pessoais sob a afirmação que “os homens são” ou “as mulheres são” só quer dizer que há uma incapacidade de resolver questões íntimas de si mesmo; que enfatizamos o que é genérico e não o específico individualizado.
O amor é um sentimento e por isso é instável e segue as regras do mundo emocional e cada vez mais se mistura, se confunde com a evolução intelectual civilizatória. Quanto menos aceitamos as instituições da civilização mais buscamos a simplicidade dos impulsos instintivos; quanto mais nos prendemos ao racionalismo, mais escravos seremos dos impulsos instintivos. A união da emoção (amor) às normas sociais vigentes é o comportamento amoroso e é ele que pode fazer com que cada amor seja único.
Cada amor é especial, indescritível, infinito (como disse o “poetinha” Vinícius) e, contrariamente ao seu verso “que não seja eterno, posto que é chama” ele pode ser eterno, se houver ação consciente (racional) para sua manutenção.
A questão, dessa maneira, se torna simples: Você privilegia a emoção ao se dizer racional e admite que o comando das suas relações se deem ao acaso; privilegia a razão e admite viver sem o sabor da emoção, ou assume o desafio de construir um relacionamento amoroso, mesmo sob a ameaça da foice do imprevisível? Na última opção você certamente viverá um amor intenso, saboroso, nutriente, talvez estável, talvez permanente e, sem dúvida, único.
Caro Messa: eu já havia identificado essa divisão entre o racional e o emocional após a última sessão em que eu e a N estivemos juntos. Ela deve ter relatado a você as minhas mudanças comportamentais que se seguiram à última sessão. Mesmo assim, muito obrigado pelo envio do texto. Ficou muito mais clara a dicotomia entre o racional e o emocional. Mais uma vez, obrigado meu caro Messa!