Abordei em outros textos a questão do comportamento que apesar de apoiado em justificativas racionais (consciência), é motivado por emoções (inconsciente).
Temos dificuldade de aceitar que agimos influenciados por algo que escapa à nossa consciência. Aventar essa possibilidade nos torna inseguros: – “não estou no controle”. A forma de encarar esse fato inegável deve ser outra: – “sou maior do que conhecia até agora!”.
O casamento, e chamo assim as uniões afetivo-sexuais duradouras, freqüentemente expõe esse aspecto através da dualidade “vínculo x autonomia”. Uma união afetivo-sexual duradoura não se contrapõe à autonomia individual. O oposto de vínculo não é liberdade assim como o oposto de autonomia não é união. Vínculo e autonomia podem (e talvez mesmo, neste momento social, devam) coexistir, porém é freqüente encontrar sofrimento emocional devido a uma sentida opressão em função de um desejado vínculo.
Diz-se que o vínculo gera dependência; talvez sim, mas talvez seja melhor dizer que o vínculo implica, como em qualquer troca, em uma contrapartida. A “responsabilidade” devido a esta, no entanto, pode ser dolorosa como grilhões que limitam nossos passos.
Como se o problema fosse o antagonismo entre dependência e independência, a ambivalência afetiva fica cindida entre o vínculo e a autonomia, gerando uma crise conjugal.
O tamanho dessa crise é variado, ela pode inflar ou se reduzir, mas a principal questão é que toda a dinâmica ocorre no escuro: no inconsciente – no campo emocional – onde habita nossa história – nossa formação psico-emocional. O fato de que os componentes da maioria dos casais desconhecem os processos inconscientes e de certa forma se alheiam dos sinais emocionais, justifica que, diante da crise conjugal, busquem um psicoterapeuta de casal que possa auxiliá-los nesse terreno inicialmente obscuro das emoções, habitado pelos fantasmas do passado.
Geralmente são esses fantasmas criados nas nossas vivências (na infância muitas vezes e reforçadas posteriormente) que dão o tom desse espetáculo onde os diálogos sempre apresentam conteúdos díspares: um fala e o outro não ouve, respondendo em seguida sobre algo que não foi dito. Isso tudo com sinais evidentes de inconsciência, sendo o maior deles a resposta repleta de emoção e, naturalmente, fora de controle.
Um ponto importante do papel dos pais é a condução dos filhos em direção à autonomia. Como os componentes de um casal que vive essa ambivalência podem conduzir adequadamente seus filhos nessa direção?
Na terapia de casal se adentra a esse universo de maneira que, em pouco tempo, se torna risível essa avalanche de sentimentos originada do… nada!
Nem todas as pessoas, no entanto, tem disponibilidade para a terapia conjugal. Com isso podem:
- Avançar mais e mais nessa ambivalência até que haja um rompimento
- acomodar-se em uma situação insatisfatória
- reproduzir, nos filhos a insatisfação, a ambivalência inapropriada descrita acima
- reproduzir na história dessa relação, a aprendizagem obtida nas vivências em seu “ninho” original, interminavelmente.
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